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sábado, 11 de julho de 2009

Poesia feminina, Tortura e Vinho-Clevane Pessoa




Créditos das fotos dos muros da Casa da Poesia, de Yeda Schmaltz, são de Masé Soares, autorizadas pelo filho da poeta.E por ele, por e-mail, para mim , para uso sobre a mãe.

Yeda Schmaltz







http://www.clevanepessoa.net/blog.phh


07/11/2007 10h56
Poesia feminina, Tortura e Vinho...



Meu amigo, o grande, grande Poeta Lázaro Barreto, anda, do alto de sua jovem e ativa vida literária ,que soma mais de sete décadas, encantado, com a poesia da mulher, hoje, pois ela se permite apurar, decantar e descrever sua emotividade e sua sexualidade aberta e corajosamente.Tempo houve em que os sentires femininos-até seus orgasmos-eram descritos por homens.A ousada Sapho foi banida para Ilha de Lesbos.Eu, depois que entrei no promeiro "enta', comecei a livrar-me das pesias das antigas normas:moça não pode, não deve, não precisa...

E comecei a colocar em versos,. toda a beleza do erotismo.Continuo detestando pornografia, poique ela, para mim, não é bela, nem excitante.E amo a beleza, desde pequena.Justamente, pos não saber o que fazer com ela, virei poetisa, para melhor descrevê-la e retê-la em meu baú de pau-d'angola.

Na Internet, chamou-me a atenção a vibração de gênero da nossa amada Yeda Schmaltz, tão amada que morria enquanto fazíamos versos (ou, enquanto morría fazíamos Poesia?) para ela e por ela, quais fiéis a orar em igrejas e repassávamos seus poemas, como se fossem mantras.

Yeda falava bananas, verduras, bombons de licor .Dela, Lázaro leu versos em algumas das minhas referências a ela, e encantou-se com o título de um dos seus livros : "Baco e Ana Brasileiras" .Alusão deliciosa às "bachianas", talvez balzaqueanas, lobos e lobas, Villa -Lobos.Perguntou-me onde comprá-lo.Eu não sabia.A poeta morara em Goiás.

Tempos depois, Masé Soares que faz meus PPS e parece saber o que desejo para as imagens e midi, mandou me contar que , ao dar suas caminhadas, passava na Casa da poesia, assim chamada por ter os muros pintados com versos.Fiquei feliz ao saber que ,pertinho dela, estava a casa onde morara a sensual Yeda(ainda mora, pois poetas não morrem , não enquanto sua poesia é lida, dita, declamada, sentida, falo num poema) .Masé, que é um furacão de energia, disse-me que para fotografar esses muros, com sua máquina digital.Contou-me que o filho, Cristino, reside lá.

Foi lá, marcou uma entrevista sobere a mãe e, tempos depois, trouxe-me o e-mail.Ele não é muito de Internet, mas correspondeu-se comigo o suficiente para eu encomendar os livros da mãe, ele ainda tinha alguns.Autorizou publicarmos versos e fotos.Mandei-lhe o pedido do Lázaro.
O certo é que , numa tarde, estávamos em meu terraço a tomar vinho , pouco antes antes do almoço, Neuza Ladeira , sua filha Luiza , Wilmar Silva e eu.
Wilmar lia meu poema Trinta Anos sem Wlado.

Antes, eu escolhera, para meu evento "Poesia é Ouro "em março deste ano, organizado pela impecável e charmosa Karina Campos (*), os versos de "Alegoria da Tortura",poema, que saiu no número 3 de Estalo,a revista ,na página ao lado de desenho meu , a bico-de-pena,onde represento a tortura de um jovem,tem lá sua carga de dramaticidade, pede uma intepretação magnífica qual a sua.Nos Anos 60, atuando em jornal , a gazeta comercial de Juiz de Fora,em plena Ditadura e depois, no consultório, enquanto psicóloga, ouvi muitos relatos de tortura e, nesses versos, sintetizo muitas delas.

Mas acabei por optar por "30 Anos sem Wlado", no Roda ao Mundo 2006 , antologia organizada anual e já tradicionalmente por Douglas Lara, de Sorocaba que faz parte do Recanto das Letras e que fora publicada lá e aqui no blog, , na terceira década do assassinato do jornalista. O Poema que fora publicada aqui, no Recanto das Letras, na terceira década do assassinato do jornalista Wladimir Herzog.Na época, houve uma reação forte, de comoção, recebo centenas de e-mails.

.Esse poema, "Alegoria da Tortura ",que saiu no número 3 de "Estalo, A Revista" ,na página ao lado de desenho meu onde represento a tortura de um jovem,tem lá sua carga de dramaticidade, pede uma intepretação magnífica,qual a do editor, poeta e performer Wilmar.Já o li em sarau da estalo, com Luiz Lyrio, no Restaurante Cozinha de Minas, que nos ofereceu espaço ..


A opção por Trinta Anos sem Wlado resultou numa leitura de arrepiar.E realmente, pessoas choraram, em especial os jornalistas.Em especial a jovem jornalista do cerimonial ,Luciana Campos, que à custo, continha as lágrimas,para que não escorressem no lindo rosto.
Mas como venho parar no assunto tortura, se falava de poesia feminina erótica? Freud explicaria.Psicóloga ,poetizo, analiso :o título de um dos muitos livros de Yeda Schmaltz, é " Baco e as Anas Brasileiras".Baco, o deus do vinho e do prazer, tocador de flauta.Em meu livro Asas de Água há um poema sobre ele.Sobre Cristo a tranformar água em vinho....Associações psicanalíticas...

Tudo porque recebi, pela manhã, o poema abaixo (em azul), de Gaya, a doce e combativa (coisa de mulher, conciliar extremos!) Rozélia Scheifler Rasia, de Cruz Alta, RS, que preside a ALPAS XXI ( * ). A versejadora fala de doces de abóbora em forma de coração- invenção feminina, já se vê, a guloseima - e em calda de romã para descrever e comentar os solavancos do destino...Confiram abaixo que beleza e depois,leiam Yeda.Para que continue entre nós...

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Poeta Honoris Causa pelo Clube Brasileiro de Língua Portuguesa, para 8 Países Lusófonos.
(*) Karina camposm,musa de meu filho Gabriel, ao saber que a dançarina e intérprete, não poderia comparecer, leu ela prórpia, com muita graça e acompanhada ao violão por músico da banda Chévere, meu poema "Dançar é Escrever com o Corpo", oferecido à Companhia de Dança Contemporânea de Évora, Portugal,.


Belo Horizonte, 07/11/2007




Solavancos *

Rozelia Scheifler Rasia

Desenhei teu nome
em doces corações de abóbora.

Queimei os dedos em rósea calda de romã,
esculpi solidão no contraverso do espelho.

Retemperei medos e traumas,
reavivei perdas e sonhos.

Fiz salada com lágrimas do destino,
tomei ilusão em copo de nuvens.

Vesti mapas de saudade,
descobri no teu sorriso que a vida mentiu.

Brinquei de rei-rainha e pega-ladrão,
pesquei dourados em águas barrentas.

Cuspi sementes de pitangas
nos olhos das lembranças

Reinventei chuva e esperança
com gotas de fel.

Vida, metamorfoses, caleidoscópio,
amores, saudades, caminhos
música, magia, destino:
morte.

Se tua palavra fosse profecia,
Seriam estéreis os solavancos do destino.

Poesia publicada na Coletânea Somos Letras – ALPAS XXI – Cruz Alta – RS
Yêda Schmaltz (*)


1
Rasgo a língua em pedaços:
este amor e as palavras
sangram.
Coisa cheia de vida,
a linguagem: vinho.
Venha.
********










2
E as tuas mãos tão brancas,
lindas, minhas
e inalcançáveis.
Um sonho colorido:
esta vontade de tocar a bruma do ar
e de despir
o meu vestido.
********









3
Música, iluminura,
cavalos, bois e mulas,
flâmulas da infância.
Epidemia sem argumento,
fermento, as peles se eriçando:
inundação, dilúvio.

********









4
Perto do meu peito ele suspira.
Sorrimos um pro outro, a sós no leito
e nos entendemos, (oh, eleito!)
alma e corpo penetrados,
no reino da loucura e da mentira.

********









5
Quando o arco do ccelo vibra as notas
e eu me selo em ti,
na angústia de sê-lo.
Quando o arco do ccelo vibra as notas,
cavalgo flores de seda
nos teus pêlos.
Amo-te ao som de tímbales e sinos,
na alucinada canção
desses versos latinos.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx









6. OFERENDA

Veio, no cheiro do tempo,
este tempo molhado
com pingos vermelhos.

Veio da terra sulcada,
na rosa de sangue
que não vai murchar.

Veio, no vento inconsútil,
nas asas do sonho,
no imo de mim.

Veio, no tempo das flores,
dos corpos salgados
de brisa e de mar.

Veio da pele sulcada,
o amor feito rosa
que eu quero te dar.









8. CONOTAÇÃO

Lápis-lazúli,
eu acho bem chic escrever
— é cor azul de se derreter.

Meu estigma de ser
envolvida por signi-
fi(n)cados.

O que você não diz
tem profundeza demais:
um raio de sol esfiapado.
********
Bilíngüe

Ó, meu Lorde, me leve para a Ásia,
quero Shiva.
Há todo um Festival
In My Heart, que assim escrito,
fica bem mais bonito
que No Meu Coração.

Me leve para a Ásia,
me chame de Gu Quin,
estou tão alone,
tão moon,
tão no silêncio de um bamboo!

Me leve para a Índia
e elefantes;
livre-me da prisão
desta caneta de Nankim.

Ó, meu Lorde, music!
E um: ai!
Gold in my body, man!
E trompetes and brushes.
E violinos.
Fly.









9 - SABER O AMOR

I

Saber o amor.
Saber o doce favo
em mel
se arrebentando.

Saber o travo
e o cravo e
o fel
se acumulando.

Saber o amor
sabendo a graça,
calor e frio;
o tempo, a traça
e a desgraça.

Saber o amor
— eu gosto! —
sabendo o gosto
da maresia dos olhos
escorrendo até
a boca.

II

Amor, uma aurora,
um desgosto,
um sol posto.
Amor: amora
negra e doce
que esmigalha
e escorre
e evapora.

Saber o amor
na boca — sabor
sabendo a sal
somente:
líquidos-amor.

(Cálice inafastável,
corpo e alma
esvaídos,
vinho e sangue,
hóstia em ofertório:
pão-meu-corpo.
— Inscreve meu nome
no Teu livro
e meu espírito!)

III
Saber o amor:
tocá-lo, pesá-lo
como se fosse palpável
a forma
que me cabe
informe.
Sabê-lo incabível,
impossível.
Saber o amor enorme.

Saber o amor
no tempo
e contá-lo em meses,
anos, vida e morte.
Saber do amor
a História.
Saber o amor
sozinho
e neurótico.

IV
Saber o amor
é se tornar pequeno
e se doar sem troca
— saber o amor
é oferecer.
Mas não se trata
de oferecer a boca
por saber
sabor de amor
e nem a castanha
entre as coxas
saberá do nós.
Saber o amor
é aquela unção
muito maior:
de nós, os fios
envolvidos,
ligados aos planetas;
estrelas em nós e luz
e sóis se acumulando.
Saber o amor:
O Cosmos.

Yêda Schmaltz



( * ) Tive alguns arquivos perdidos e os livros estão bem no alto da estante , suspensa na parede de meu quarto...Com a "cervical de renda", depois da queda, não posso jogar a cabeça para trás e olhar para o alto, sem pagar o preço da dor a posteriori.Então, valho-me do antigo e excelente "Jornal de Poesia", do Soares Feitosa, onde, na Revista Agulha, capto versos (rapto versos?) de Yeda snchmaltz....
Sei que o poeta soberano da palavra cearense não vai e importar.Aliás, seu site foi o primeiro a abrigar subsites de poetas convidados (inclusive eu, maravilha!), com direito a exposição de poemas, dados biográficos e até fortuna crítica (até hoje não enviei, de meu baú de pau d'angola,essas preciosodades que nos en/cantam a alma).Sem cobrar nada.Tudo feito com atenção e carinho, bom gosto e veracididade.
Visite:

http://www.revista.agulha.nom.br
http://www.secrel.com.br



E fecho com uma das minhas, que ofereço ao Lázaro, colecionador :


Indeléveis traços


Na cosmografia do corpo
Há traços indeléveis
De carinhos invisíveis
Entregas plenas luminosas
e recusas indevassáveis...
há gemidos calados
e soluços reprimidos...
há erosões camufladas
e arrepios apagados...
há canções maravilhosas
para os outros, inaudíveis...
No corpo que parece calado
Estão escritos do amado
-Sejam puras ou indecorosas
somente podem ser decifradas
as palavras de um amante
por quem conhece as fadas
as feiticeiras do bem
e a chave do segredo
nas mãos da alma retém...
Para os demais,
Hieróglifos estranhos
Mas para quem o Amor viveu,
São marcas d"água,de banhos
Tomados lentos a dois...


Clevane Pessoa de Araújo Lopes
(29092002-BH-MG)
Erotiquinha
Quando gozogozo,
bêbada do uso-ozo
com gosto de anis,
grito,arfo,fremente.

De mim mesma,corro.

Por um triz,não morro.

Eu,pequena bacia d'água.
Você,chafariz



Mais textos em meu Diário(blog):
http://www.clevanepessoa.net/blog.php

clevane pessoa de araújo lopes

Publicado por clevane pessoa de araújo lopes em 07/11/2007 às 10h56

Feed back da poeta e artista plástica Graça Campos:

"Clevane,

Essas "Mulheres Formosas, Senhoras dos Versos tão mágicos, profundos ...
São belíssimos os poemas... Toda essa poesia feminina é deliciosa!

(Indeléveis Traços, me encantei!)
Um abraço
Graça Campos"

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