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sábado, 11 de julho de 2009

Clevane Pessoa entrevista João Evangelista Rodrigues


JOÃO EVANGELISTA RODRIGUES - ARCOS (MG)



João Evangelista Rodrigues, 55, nasceu em Arcos (MG), na cabeceira do Rio São Francisco. Jornalista, escritor, compositor, fotógrafo e poeta. Autor de livros como "O Avesso da Pedra",( 1981) "Mutação dos Barcos" ,( 1989) " A Oeste das Letras" ( 1999) e "Transversias", ( 2003), folhetos de cordel, tendo , ainda, participado de várias antologias. Como compositor, é parceiro de Paulinho Pedra Azul, Téo Azevedo,Gilvan de Oliveira, Pereira da Viola, Joaci Ornelas, ZÉ Neto, Cid Ornellas, Rubinho do Vale, Zé Baliza , entre outros; Formado em Filosofia e Jornalismo . Foi diretor da Casa do Jornalista , Diretor Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e Superintendente de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais. Atua como agente cultural, com particular interesse pela cultura popular. Atualmente é professor de Legislação e Ética em Jornalismo na PUC Minas Arcos, na qual exerce o cargo de Coordenador do Curso de Jornalismo e Gestão da Comunicação Integrada.

Este texto é da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE, com uma pequena adaptação.

Clevane entrevista João Evangelista Rodrigues:

1)QUANDO A POESIA ENTROU EM SUA VIDA?E A FOTOGRAFIA?

Bem, a primeira vez que senti vontade de escrever um poema, tinha 14 anos. Mas a poesia mesmo, acho que esta me acordou bem mais cedo com o cantar dos galos e o cnato dos pássaros. Nasci na roça , em uma pequena fazenda dp interior de Minas. Aprendi bem cedo a liberdade do rio e do vento. Foi assim que resisti a todas as tentativas de domesticação, não deixei me metrificar nem pela escola , nem pela família nem pelas outras formas de condicionamen to. Depois voltei a escrever aos 18 anos e , daí para frente, nunca mais parei. Vida e poesia andam juntas em mim, em cada coisas que faço e penso, mesmo quando, aparetemente, não estou pensando nela ou a ela me dedicando.Poesia é uma forma de ser.Uma visão de mundo. Forma de sentir e de se manifestar verbo-voco-visual. É solidariedade e comunhão com os seres, pessoas e todas as coisas do planeta.Do cosmos. Já a fotografia, esta veio mais tarde, com a quase cegueira eo desejo de pegar as formas, as cores de maneira mais concreta. Foi a corporificação das imagens poéticas. Da poesia para a fotografia só tive de aprender a manejar o equipamento.Tudo são maneiras de escritas.De mergulhar no mundo e revelar seus contornos e abismos mais sutis.

2)SENDO COORDENADOR DO CURSO DE COMUNICAÇÃO DA PUC DE ARCOS MG, COMO VC CONCILIA AS ATIVIDADES ARTÍSTICO LITERÁRIAS (FATOR TEMPO) À PRIMEIRA?

Acho que se dependesse de tempo e de conciliações , a poesia já teria me abandonado.Sou péssimo amante, um namorado afobado com as atribulações e caprichos do mundo. Mas descobri que a poesia me amava e , desde então, procuro me dedicar a ela sempre que posso.Nos intervalos.Acho mesmo que a a vida que vale a pena é vivida nos intervalos, nos vieses, nos estreitos dos dias da existência curta e demorada que a vida assim tão tragicamente transitória.Fotografo a poesia.

Diria que procuro fazer de cada poema uma foto e de cada foto um poema.Pelo menos é o que tenho tentado fazer.

É esta luta que me tem mantido vivo.

3)DENTRE SEUS LIVROS HÁ ALGUM ESPECIAL?

Talvez o que escreverei algum dia. De verdade mesmo, gosto de todos, cada um a seu tempo, a seu modo, por razões as mais diversas. É através de um que chego ao outro. Penso , como Jorge Luis Borges, só exista um livro , todos os demais são formas especulares, simulacros, sobras em espelho embaçado. São os livros que conseguimos realizar, por isso, acho importante amá-los , mesmo imperfeitos.

E AGORA,(APENAS SE QUISER FALAR DESSA CIRCUNSTÂNCIA, OK?)O QUE TEM SIGNIFICADO PARA VOCÊ TER PROBLEMAS DE VISÃO E DEDICAR-SE TÃO BRILHANTEMENTE ÀS CHAMADAS DE SUAS VOCAÇÕES(MÚSICA, TEATRO, LITERATURA, FOTOGRAFIA?)NO MUNDO ATUAL, ALGUNS FOTÓGRAFOS VÊM REALIZANDO TRABALHOS INCRÍVEIS, APESAR DA DV(*).VOCÊ TEM ACOMPANHADO ESSA TRAJETÓRIA?

Passado o susto inicial e o período de adapatação levo uma vida normal. Até gosto de ver as coisas distorcidas, meio incompletas.Afinal é assim mesmo o conhecimento humano. Aprendi muito com a promessa de cegueira- tinha trinta anos e estava concluindo o curso deJornalismo na PUC Minas e já havia feito o curso de Filosofia : descobri que era limitado e que precisava conviver com esses limites. Depois foi me acostumando com as noramas formas de ver e de agir , de esgueirar-me por entre as quinquilharias do mundo.As burocracias e os meandros dos podres poderes são mais tortuosos e traiçoeiros. Recebi muita solidarieade de amigos e, com isso, nem no dia que foii ao oculista e que fiz a sirugira deixei de escrever.Comecei a ir m ais ao teatro, às palestras, às apresentações muisicais.A conversar mais com as pessoas. Descobri as formas das coisas, passei a me deter mais nas formas, nas cores, na textura.Descobri, enfim, que tinha ouvidos, olhos , tato e paladar.

Mais tarde descobri Jorge Luis Borges, Milton.Reparei que vários escritores importantes eram ou ficaram cegos e , portanto, resolvi que a vista não seria o problema.O problema mesmo era a escritura. O texto.

Resisti ao computador um pouco como quase todos de minha geração depois descobri nele enermes possibilidades. Assim, vi nele um aliado. Leio muito todos os dias.Se a letra for pequena amplio tanto na tela do monitor quanto no papel através de xerox.Às vezes tiro xerox do livro inteiro.Compro , tiro xerox ampliado e leio.Adeus direitos autorais, mas , pelo menos neste caso , a razão é justa.,

Não ´é por acaso que existem vários verbos para designar os atos da visão: ver, enxergar, intuir e olhar. Quer souber ler que leia.Tenho acompanhado sim e acho legal que as pessoas se mostrem como são e não se envergonhem e não se excluam por si mesmas. Precisamos mesmo abrir as janelas todas da alma e ver de corpo inteiro a corporificação transfiguradora e tranasfigurada de tudo que nos rodeia.

É preciso esclarecer, entretanto, que , atualmente, minha visão pouco me atrapalha.Só mesmo se as letras forem muito pequenas ou condensadas, como adora as editoras ávidas por lucro .No mais faço de tudo ando de bicicleta- e muito – jogo , nado e corro . Cobro às vezes das pessoas arrogantes e auto-suficientes, daquelas que, por vários motivos, se consideram muito normais.

Um grande abraço.

João Evangelista Rodrigues

(JOAO,ESSA ÚLTIMA PERGUNTA,RESPONDA APENAS SE O DESEJAR, POIS SEI QUE A DV NADA SIGNIFICA EM RELAÇÃO À EXCELÊNCIA DE SUA OBRA)...

UM ABRAÇO CORDIFRATERNO, DA CLEVANE

(*)DV:Deficiência visual

clevane pessoa de araújo lopes
Publicado no Recanto das Letras em 12/10/2005
Código do texto: T58925

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Esta entrecista foi publicada ainda em http://www.paragonbrasil.com.br/conteudo.php?item=2338

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