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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

NERUDA, ainda e sempre




Adoro ler Neruda e foi com prazer que lhe escrevi versos em seu centenário(publicados originalmente eno portal palavreiros).Dele, bem afirmava Clarice Lispector, que era "um poeta que amava todas as coisas".
Um dos aspectos que mais aprecio em Neruda, são seus versos amorosos , por não cairem no lugar comum.Traduzidos para o português, às vezes perdem nuances de sonoridade ou vocábulo, ritmo ou proposta original, mas costumam, ainda assim , encantar.As questões de gênero, corpografia, subtendem-se muitas vezes, dos aspectos da natureza por ele usadas, descritas, incansavelmente.O Cosmos, um todo, onde está inserida a mulher amada.A sensualidade amorosa de Pablo Neruda, é a mesma que se esprai pelos poemas paisagísticos e a situ/ação(lugar+circunstância ,pessoal ou não), a corpografia feminina e a paixão.

Vejamos no poema XII(*)

"Plena mulher,maçã carnal,lua quente,
espesso aroma de algas ,lodo e luz poisados,
que obscura claridade se abre entre tuas ciolunas?
Que antiga noite o homem toca com seus sentidos?"

Esse homeme apontado, ele próprio ou o qualquer terreno outro, não importa nesse contexto da primeira estrofe, mesmo que no segundo terceto, ele use a primeira pessoa pessoa verbal:

"beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens,teus rios,teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia" (...)

Termina universal;

(...)Corre pelos tênue caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra um raio."

Já traduzi alguns poemas nerudeanos, mas aqui, transcrevo a interessante tradução de Carlos Nejar, bem à mão no "Pablo Neruda-Cem Sonetos de Amor", em pocket book da L&PM Pocket.

No entanto, no primeiro quarteto,quarto verso, trocaria "toca com" , para evitar o "ca+co".
Talvez colocasse "Qua antiga noite o homem tange com seus sentidos".Também no sétimo versos(último terceto, retiraria "como "-pelo peso da conjugação verbal similar-e colocaria "qual".

Mas traduzir poesia não é tarefa muito fácil, o tradutor é um autor sobreposto e tem de pelejar com o ritmo, o sentido e a estilistica.Fonética, semãmtica, semiologia:um entrelaçado manto de conteúdos tecido num tear de bom senso, mas sobretudo de beleza poética...

(Trechos de "Neruda, Ainda e sempre-Ensaio"-CPAL)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Belo Horizonte, 26/01/2009

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Outros:



Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda
(in Ultimos Poemas)

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YouTube - Pablo Neruda - Poema # 20
Assistir vídeo
Voz e Imagenes por Pablo NerudaPuedo escribir los versos más tristes esta noche. ... Reyes Basoalto, más conocido como Pablo Neruda (nacido el 12 de julio de 1904 ...
br.youtube.com/watch?v=jF79a4K9wGg -

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Os Vinte Poemas
( 20)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me amou, às vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para aproximá-la o meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite qeu fez branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo

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É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis. (Pablo Neruda)

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